Mar da Tranquilidade (Katja Millay)

Título original: The Sea of Tranquility

Autor: Katja Millay

Páginas: 365
Editora: Arqueiro

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Eu estava muito desconfiada com este livro. Muito mesmo. Meu interesse pela história foi caindo com o tempo, até que chegou um momento que eu não queria ler. Mas, contudo e porém, como não sou de desistir fácil de livros (e antes mesmo de começar, então...) dei uma chance para Mar da Tranquilidade. E foi um boa leitura.

Nossos dois protagonistas são extremamente problemáticos (eles mesmos dizem isso). Josh parece ter um campo de força ao seu redor, vive sozinho na escola. O motivo, todo mundo sabe. Sua vida foi marcada pela morte, todas as pessoas que amava foram tiradas de si e só restou ele. Nastya, nossa outra protagonista, tem um mistério envolta de si. A coisa que mais amava e a fazia feliz também lhe foi tirada e decidiu parar de falar. Sem qualquer comunicação verbal com as pessoas, mas sempre chamando atenção para si, fica definitivamente intrigada com o aparente "campo de força" de Josh. Daí, é inevitável a aproximação de duas pessoas com muitos problemas e muitos segredos inatingíveis.

Serei muito sincera: eu não esperava nada deste livro, e no fim acabei me surpreendendo. Positivamente, ressalto. Entretanto, não foi uma leitura excepcional ou especial. Foi uma boa leitura. A narrativa é intercalada entre Josh e Nastya em primeira pessoa e assim é possível assimilar tudo pela visão deles.
Nastya é visivelmente mais misteriosa do que Josh, e raramente se permite a demonstração de sentimentos ou até mesmo revelações sobre o que aconteceu no passado; e a faz se transformar em uma nova pessoa. Temos dois protagonistas antissociais e cheios de problemas. Problemas com comunicação, com sentimentos, reconstrução e outras infinitas questões. Gostei de como a autora trabalhou o universo e aquilo que eles sentiam, e especialmente o mistério.

 ‘‘Pessoas que nunca passaram por merda nenhuma sempre acham que sabem como você deve reagir ao fato de sua vida ter sido destruída. E aqueles que passaram por situações complicadas acreditam que você deveria lidar com as dificuldades do mesmo jeito que elas. Como se existisse um roteiro preestabelecido para sobreviver ao inferno.’’

O mistério do livro foi muito bem construído. E foi o que definitivamente me moveu durante a leitura. Nos são dadas pistas do que aconteceu com Nastya a cada página, nos permitindo palpites mais precisos. Mas por mais que a narrativa seja boa, eu não conseguia ficar muito tempo lendo Mar da Tranquilidade, não fluiu como eu gostaria.
Os sentimentos durante todo o livro são muito intensos e palpáveis. Vamos acompanhar como é viver sozinho (a), sem amigos, sem comunicação com outras pessoas e sendo constantemente oprimido (a) (cada um de uma forma). E o fato de ter que se reconstruir, mudar tudo em sua vida também pode ser muito complicado. Para tentar fugir de tudo que a assombrou no passado, Nastya transforma-se em uma nova pessoa e decide parar de falar. O que se transforma em uma decisão muito complicada quando você finalmente quer falar.

O amor em Mar da Tranquilidade não é tratado como forma de cura nem salvação. Muito menos de forma piegas. O relacionamento dos protagonistas também não tem nada de "comum" e é tratado pela autora com sutileza e cuidado. Foi uma abordagem diferente a respeito do amor entre duas pessoas tão complicadas.

Em síntese, eu gostei de Mar da Tranquilidade. Não consegui me envolver tanto quanto gostaria com a história, mas foi uma boa leitura. É um livro intenso e bonito, apesar de não passar exatamente um mar de tranquilidades, já que os fortes sentimentos e conflitos dos protagonistas são magistralmente passados. Recomendo.